domingo, 19 de março de 2017

O CÉREBRO, O TEMPO E O AMOR

Qual a relação do cérebro, o tempo e o amor?

O nosso cérebro é tão antigo e extraordinariamente capaz, que possui inúmeras capacidades, evoluiu no tempo e adquiriu experiências e conhecimentos.  Nosso cérebro é igual em todos os seres humanos, a nossa tristeza e a nossa alegria é o mesmo sentimento em qualquer outro local do planeta. A mãe que perde um filho na mais longínqua aldeia chora da mesma forma que uma mãe culta do país mais civilizado, que também perde seu filho.

O cérebro evoluiu desde tempos imemoriais, condicionado pelas culturas, pelas religiões, pelas pressões econômicas e sociais; tem tido até agora uma continuidade e descobriu durante esse período a sensação de sentir-se seguro. E assim, aceita a tradição, pois nela há segurança; imita porque lhe dá segurança; no conformismo está a segurança; inclusive na ilusão há segurança. Todos os deuses que criamos e toda crença são ilusões, porque nos dá a sensação de estarmos protegidos, de estar no útero de Deus; mas isso é apenas mais uma ilusão, pois são criações do nosso pensamento.

Essa continuidade considerada “progresso” nos torna mecânicos, nela não há espaço para o “novo”. Quando procuramos uma continuidade, buscamos baseados na memória, resposta do conhecimento obtido. Aí não floresce o “novo”. É por isso que criamos um mundo tão divido e tão confuso. Foi o pensamento mecânico que criou esse mundo e o sustenta: o eu, o mim, o não-mim, o outro. É o que nos foi legado há milênios.

É maravilhoso podermos enxergar isso e nos perguntarmos: poderá o cérebro livrar-se da sua carga mecânica de continuidade do passado e tornar-se inteiramente novo? Inteiramente presente?

O cérebro diz: fui magoado uma vez, portanto vou guardar esse fato e com isso evito de ser novamente magoado. Nesse fato a nossa autoimagem ficou arranhada e nos magoamos. Seria possível carecer desta autoimagem e não ter nenhum registro do fato? É possível não registrar psicologicamente, mas registrar o que for necessário e relevante para nossas vidas? É possível nos libertamos desse passado?

Nossa consciência é o seu conteúdo. O conteúdo forma a nossa consciência. Se esse conteúdo for nossa tradição, nossa angustia, nosso nome, nosso status, nossos apegos; esse conteúdo é nossa consciência e nossa aflição. Podemos interromper isso, fazer voluntariamente cessar esse estado confuso? É possível registrar apenas o essencial e relevante para nossas vidas?

Aqui entra a meditação. Quando estivermos estabelecido ordem em nossa vida, haverá liberdade! A própria ordem é liberdade! Já o maior psicólogo havia dito: encontrareis a verdade e a verdade vos libertará!

O que é ordem em nossas vidas?
Só compreendemos o que é ordem quando compreendemos o que significa viver em desordem! Quando colocamos o conhecimento em seu devido lugar. Quando compreendemos a sua significância e a ilusão de segurança que nos dá e ter a percepção de todo o movimento ilusório da continuidade.

Tudo é transitório na vida. Aqui nada é eterno! Essa transitoriedade da vida não lhe diz nada? Aqui tudo finda, tudo termina!

Quando surge a percepção integral do movimento da vida há uma completa conscientização e o cérebro passa a registrar somente o necessário e nada mais. Aparece o “novo”, uma nova maneira de viver, um cérebro vivo, perceptivo, vibrante, fresco. Uma nova mentalidade!

O amor faria parte dessa conscientização? Essa é uma pergunta relevante e deve ser feita e registrada. O amor possui a continuidade do passado? Amo hoje, mais que ontem? E amanhã estarei amando mais ainda?

Não! A compaixão e o amor não vem com o tempo, não tem movimento de continuidade e evolução. O amor floresce quando compreendemos o nosso desamor! O amor e a compaixão estão fora do tempo; aí há beleza, há virtude que não se opõem aos seus contrários.

Amor não é recordação, não é desejo que se prolonga no movimento do tempo, não é prazer e nem atração sexual! Não existe onde existe o ciúme e apego. Prazer, atração sexual, ciúme e apego só existe no tempo transitório. A inveja, o antagonismo, a ambição, o desejo de status, tornar-se ilustre ou poder.... tudo morre no tempo! Aí há caos, há desordem! Desejo e aflição.


O amor mora fora do tempo. Com o amor há ordem, há liberdade, há compaixão! E com isso podemos viver no tempo, mas não sermos dele. Aqui apenas estamos, mas não ficamos. Não somos do tempo e do mundo. Não pertencemos ao transitório, nele só estamos, mas, não pertencemos. Além dele só há o amor, a compaixão, a beleza e a virtude do novo.  

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