Qual a relação do cérebro, o
tempo e o amor?
O nosso cérebro é tão antigo
e extraordinariamente capaz, que possui inúmeras capacidades, evoluiu no tempo
e adquiriu experiências e conhecimentos. Nosso cérebro é igual em todos os seres
humanos, a nossa tristeza e a nossa alegria é o mesmo sentimento em qualquer
outro local do planeta. A mãe que perde um filho na mais longínqua aldeia chora
da mesma forma que uma mãe culta do país mais civilizado, que também perde seu
filho.
O cérebro evoluiu desde
tempos imemoriais, condicionado pelas culturas, pelas religiões, pelas pressões
econômicas e sociais; tem tido até agora uma continuidade e descobriu durante
esse período a sensação de sentir-se seguro. E assim, aceita a tradição, pois
nela há segurança; imita porque lhe dá segurança; no conformismo está a segurança;
inclusive na ilusão há segurança. Todos os deuses que criamos e toda crença são
ilusões, porque nos dá a sensação de estarmos protegidos, de estar no útero de
Deus; mas isso é apenas mais uma ilusão, pois são criações do nosso pensamento.
Essa continuidade considerada
“progresso” nos torna mecânicos, nela não há espaço para o “novo”. Quando
procuramos uma continuidade, buscamos baseados na memória, resposta do
conhecimento obtido. Aí não floresce o “novo”. É por isso que criamos um mundo
tão divido e tão confuso. Foi o pensamento mecânico que criou esse mundo e o sustenta:
o eu, o mim, o não-mim, o outro. É o que nos foi legado há milênios.
É maravilhoso podermos
enxergar isso e nos perguntarmos: poderá o cérebro livrar-se da sua carga mecânica
de continuidade do passado e tornar-se inteiramente novo? Inteiramente
presente?
O cérebro diz: fui magoado
uma vez, portanto vou guardar esse fato e com isso evito de ser novamente
magoado. Nesse fato a nossa autoimagem ficou arranhada e nos magoamos. Seria
possível carecer desta autoimagem e não ter nenhum registro do fato? É possível
não registrar psicologicamente, mas registrar o que for necessário e relevante
para nossas vidas? É possível nos libertamos desse passado?
Nossa consciência é o seu
conteúdo. O conteúdo forma a nossa consciência. Se esse conteúdo for nossa
tradição, nossa angustia, nosso nome, nosso status, nossos apegos; esse conteúdo
é nossa consciência e nossa aflição. Podemos interromper isso, fazer
voluntariamente cessar esse estado confuso? É possível registrar apenas o
essencial e relevante para nossas vidas?
Aqui entra a meditação.
Quando estivermos estabelecido ordem em nossa vida, haverá liberdade! A própria
ordem é liberdade! Já o maior psicólogo havia dito: encontrareis a verdade e a verdade vos libertará!
O que é ordem em nossas
vidas?
Só compreendemos o que é ordem
quando compreendemos o que significa viver em desordem! Quando colocamos o
conhecimento em seu devido lugar. Quando compreendemos a sua significância e a
ilusão de segurança que nos dá e ter a percepção de todo o movimento ilusório da
continuidade.
Tudo é transitório na vida.
Aqui nada é eterno! Essa transitoriedade da vida não lhe diz nada? Aqui tudo
finda, tudo termina!
Quando surge a percepção
integral do movimento da vida há uma completa conscientização e o cérebro passa
a registrar somente o necessário e nada mais. Aparece o “novo”, uma nova
maneira de viver, um cérebro vivo, perceptivo, vibrante, fresco. Uma nova
mentalidade!
O amor faria parte dessa
conscientização? Essa é uma pergunta relevante e deve ser feita e registrada. O
amor possui a continuidade do passado? Amo hoje, mais que ontem? E
amanhã estarei amando mais ainda?
Não! A compaixão e o amor não
vem com o tempo, não tem movimento de continuidade e evolução. O amor floresce
quando compreendemos o nosso desamor! O amor e a compaixão estão fora do tempo;
aí há beleza, há virtude que não se opõem aos seus contrários.
Amor não é recordação, não é
desejo que se prolonga no movimento do tempo, não é prazer e nem atração sexual!
Não existe onde existe o ciúme e apego. Prazer, atração sexual, ciúme e apego
só existe no tempo transitório. A inveja, o antagonismo, a ambição, o desejo de
status, tornar-se ilustre ou poder.... tudo morre no tempo! Aí há caos, há
desordem! Desejo e aflição.
O amor mora fora do tempo. Com
o amor há ordem, há liberdade, há compaixão! E com isso podemos viver no tempo,
mas não sermos dele. Aqui apenas estamos, mas não ficamos. Não somos do tempo e
do mundo. Não pertencemos ao transitório, nele só estamos, mas, não
pertencemos. Além dele só há o amor, a compaixão, a beleza e a virtude do novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário